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Dia Internacional das Mulheres na Engenharia: Histórias de Sucesso e Inspiração

Entrevista

23/06/2024

Nesta data especial, conheça a trajetória de duas engenheiras, seus desafios na carreira, suas inspirações e sucesso.

O Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, celebrado em 23 de junho, é uma data significativa que visa destacar e reconhecer as contribuições das mulheres na área da engenharia. Este dia foi instituído pela Women's Engineering Society (WES) do Reino Unido em 2014 e, desde então, vem ganhando relevância global.

A engenharia é uma profissão fundamental para o desenvolvimento da sociedade, abrangendo áreas como a construção civil, a eletrônica, a informática, a mecânica, a química, entre muitas outras. Entretanto, historicamente, essa profissão foi predominantemente ocupada por homens, resultando em uma sub-representação feminina no setor, em especial, o setor HVAC-R. O Dia Internacional das Mulheres na Engenharia busca justamente equilibrar essa equação, incentivando mais mulheres a ingressarem e permanecerem na carreira de engenharia.

As contribuições das mulheres engenheiras são vastas e impactantes. Elas estão envolvidas em projetos inovadores que vão desde a criação de tecnologias sustentáveis até a construção de infraestruturas críticas. A presença feminina na engenharia não só diversifica o campo, mas também traz novas perspectivas e soluções criativas para os desafios contemporâneos. Estudos como o realizado pela McKinsey & Company, apontam que empresas com maior diversidade de gênero têm 21% mais probabilidade de ter um desempenho financeiro superior ao de seus pares.

Para ilustrar a importância e os desafios das mulheres na engenharia, entrevistamos duas engenheiras que compartilharam conosco suas histórias inspiradoras.

Gabriele Mônego Araújo, 38 anos, Engenheira Química e de Segurança no Trabalho, mestre em Engenharia de Processos e atualmente atua como Engenheira de Processos na CEITEC-SA Semicondutores.

Ana Carolina de Souza Rodrigues, Engenheira Mecânica formada pela Universidade Federal Fluminense com graduação-sanduíche na Stony Brook University (EUA). Pós-graduada em Eng e Gerenciamento de Manutenção pela Universidade Cândido Mendes. Presidente do Comitê de Refrigeração e Vice-presidente do comitê de Diversidade na ASHRAE South Brazil. Há mais de 6 anos no setor AVAC-R, atuou na Frigerar, Stulz e Bry-Air. Atualmente é Engenheira Sênior de Aplicação e Vendas na Multinacional Copeland.

Educação e Formação

Gabriele: Durante a minha formação acadêmica em Engenharia Química, passei por muitos momentos de confiança e dúvidas sobre minha escolha na engenharia. No entanto, eu tive sorte de contar com professores que, além da experiência acadêmica, também haviam atuado como engenheiros em empresas. Isso, a meu ver, enriqueceu significativamente meu aprendizado e visão sobre o que eu desejava para o futuro.

Ana Carolina: Antes da graduação, fiz curso técnico de eletromecânica e me apaixonei pelas disciplinas de Mecânica. Sempre gostei muito de estudar e tinha o sonho de fazer faculdade. Vi que a forma de continuar na mecânica seria fazendo engenharia. Sempre fui muito curiosa e resolvia problemas, e isso é algo essencial para engenheiros, que precisam pensar fora da caixa e resolver problemas todos os dias. Antes de pensar nessa área, pensei em fazer medicina, que é a profissão que mais admiro. No entanto, percebi que não tinha o perfil adequado e optei por seguir onde sempre tive maior aptidão: nas disciplinas de exatas. Na época, pensei em medicina porque achava que apenas os médicos trabalhavam para a saúde e bem-estar das pessoas. Ao trabalhar com AVAC-R, percebi que nós também somos responsáveis pela saúde através da qualidade do ar e pela conservação dos alimentos, por meio da refrigeração. Vejo propósito no que faço e me sinto feliz pela minha escolha, percebendo a importância do nosso setor para a sociedade. Então, durante a minha graduação de Engenharia Mecânica na Universidade Federal Fluminense, em uma turma de 40 alunos, éramos 5 mulheres. Apesar do número, não senti durante a graduação diferença de tratamento entre meus colegas. Essa diferença veio mais tarde, quando começamos a participar de processos seletivos.

Desafios na Carreira

Gabriele: Acredito que meu maior desafio foi aprender a expor minhas ideias e argumentos com segurança e objetividade. Na engenharia, os projetos, problemas e desafios são resolvidos em grupo, então a comunicação e a troca de ideias com colegas de trabalho sempre resultam em decisões mais assertivas. Infelizmente, já vivenciei algumas situações de discriminação, embora poucas. No entanto, nós, mulheres, não somos preparadas para lidar com esses acontecimentos no ambiente de trabalho. No início da minha carreira, eu reagia afastando-me da pessoa e buscando o mínimo de contato. Esses incidentes geralmente vêm disfarçados de piadas ou brincadeiras sutis. O preconceito é mascarado. Hoje, com mais maturidade e profissionalismo, se encontro algum tipo de discriminação, busco as ferramentas disponíveis na empresa para combatê-lo.

Conquistas e Realizações

Ana Carolina: Eu me orgulho da minha trajetória. Fiz uma transição de carreira importante, saindo da siderurgia para o setor AVAC-R. No interior do estado do Rio, Volta Redonda, não tinha cursos e oportunidades como tem em São Paulo. Mesmo assim, corri muito atrás, investi muito em estudar, ferramentas, e hoje me sinto muito feliz e realizada trabalhando como engenheira de aplicação da Copeland, uma empresa multinacional, centenária e que tem um ambiente de trabalho muito acolhedor e inclusivo. Um dos trabalhos que mais me orgulho é poder ajudar outras mulheres do nosso setor, dando voz a elas, uma palavra de incentivo, compartilhando minha história e sendo um ponto de apoio como um dia foram para mim. Tenho muito orgulho do cargo que tenho, que me abriu essa oportunidade, e também de estar como vice-presidente do Comitê de Mulheres da ABRAVA. Temos feito muitas iniciativas e eventos e estamos impactando muitas mulheres. É extremamente gratificante para mim fazer parte disso.

Equilíbrio entre vida profissional e pessoal

Gabriele: Equilibrar a vida pessoal e profissional requer organização, especialmente quando se tem filhos. Manter uma agenda organizada facilita bastante, pois imprevistos são inevitáveis. No trabalho, procuro me manter atualizada, discutindo e conversando com colegas da área sobre as novidades. Participar de treinamentos também é útil. No entanto, o mais importante é conhecer seus limites e evitar a sobrecarga.

Mentoria e Apoio

Gabriele: Ao longo da minha carreira, muitas pessoas contribuíram e serviram de inspiração para que eu buscasse e alcançasse minhas metas e propósitos. Cada uma delas teve um papel importante em momentos específicos. Algumas me inspiraram pelo exemplo, pela maneira profissional com que executavam seu trabalho e lidavam com determinadas circunstâncias. Outras foram grandes incentivadoras, torcendo pelo meu crescimento. Acredito que as empresas devem nutrir seus colaboradores com workshops, palestras e conteúdos ricos para evitar a discriminação de gênero. Elas devem buscar formas de tornar o ambiente de trabalho mais igualitário, talvez adotando práticas de empresas com culturas mais maduras na equidade de gênero, como a licença paternidade estendida.

Perspectivas sobre Diversidade e Inclusão

Ana Carolina: Vejo que temos ganhado muito espaço; o perfil das empresas está mudando. Vejo muitas ações benéficas para a mudança deste panorama através de muitos fóruns de discussão sobre o tema, como a ASHRAE, através do Diversity, e a ABRAVA, através do comitê. Contudo, o caminho é longo. Além de contratar boas profissionais, é preciso criar ambientes de trabalho para que essas mulheres possam ser retidas. Ainda vejo muitas falas cheias de preconceito, o tal viés inconsistente que continua não fazendo parte do conhecimento de muitos. Saiu mais uma reportagem que indica: 'Com os lentos – ainda que constantes – avanços em relação à igualdade de gênero, levará 134 anos, aproximadamente cinco gerações, para alcançar a paridade total.' Como podemos observar, temos um longo caminho a percorrer. Não podemos esperar cinco gerações para virar esse jogo. Mas, ainda assim, vejo de forma positiva que estamos no caminho. No mercado, em especial HVAC-R, temos muitas engenheiras qualificadas; precisamos de oportunidades, uma chance para que elas possam mostrar a competência.

Conselhos e Futuro

Gabriele: Para as jovens e futuras engenheiras, desejo sucesso e perseverança. Alguns momentos serão difíceis, mas não impossíveis de superar. Estudem e dediquem-se aos desafios, pois aprendemos muito e as lições são eternas, tornando-nos mais fortes. Afastem-se de ambientes tóxicos que as coloquem para baixo e aproximem-se de pessoas gentis, inteligentes e que tenham prazer em compartilhar trabalho e experiências com vocês."

Futuro da Engenharia e o Papel das Mulheres

Ana Carolina: Eu vejo que no futuro a equidade de gênero será algo tão natural que as próximas gerações podem até nem saber o que são esses termos, no bom sentido. É isso que eu vejo no campo da engenharia também. Temos muitas mulheres qualificadas e que podem ocupar esses espaços, até porque a engenharia é um campo muito promissor, e as mulheres podem ocupar esses espaços de forma natural.

Conclusão

Celebrar o dia 23 de junho é uma forma de inspirar a próxima geração de engenheiras, inspirar meninas e mulheres, promovendo histórias de sucesso e destacando modelos femininos que quebraram barreiras e conquistaram seu espaço. Além disso, é uma oportunidade para discutir e enfrentar as barreiras ainda existentes, como os preconceitos de gênero, a desigualdade salarial e a falta de representatividade em posições de liderança.

Diversas organizações e instituições educacionais realizam eventos, workshops e palestras no dia 23 de junho para conscientizar sobre a importância da diversidade de gênero na engenharia e para promover a igualdade de oportunidades. Essas iniciativas são cruciais para criar um ambiente mais inclusivo e acolhedor para mulheres na engenharia e a ASHRAE South Brazil tem sua importante contribuição no reconhecimento e valorização do indivíduo, trabalhando incansavelmente para uma sociedade mais sustentável.

O Dia Internacional das Mulheres na Engenharia não é apenas uma celebração, mas um chamado à ação. Ele nos lembra que, ao apoiar e promover a participação feminina na engenharia, estamos construindo um futuro mais equitativo e inovador. É uma data para reconhecer o passado, valorizar o presente e transformar o futuro da engenharia com a força e a competência das mulheres engenheiras.

Que este dia sirva de inspiração e incentivo para que cada vez mais mulheres vejam na engenharia uma carreira possível e promissora, contribuindo com suas habilidades e criatividade.

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